terça-feira, 6 de agosto de 2013

FLORES NO METRÔ DAS SEIS




  1. Escrever é meu jeito de me aproximar, de me indignar, de sobreviver emocional e materialmente, também de sofrer, de ser o que não sou, de sonhar demais e fazer de menos, de levar uma vida paralela que não avança com passos decididos, mas tropeções em palavras ambíguas, como as da poesia, “que demais cansa”, disse Drummond, por mais que ela seja um tipo de tecido que recobre a alma, bem mais sutil e muito abaixo da pele com poros e pelos, cheiros, texturas, cotidianamente talhada pelas marcas do tempo. Por isso me atraso no encontro com a felicidade. Que está sempre do lado, em frente, acima, quem sabe atrás, nunca na folha de papel. Felicidade que também surpreende em aparições inusitadas. No empurra-empurra assustador do metrô estava no vaso de flores que um doido apaixonado teimou em proteger com o próprio corpo e levar da Sé ao Belenzinho na hora da insensatez, dos trens apinhados de gente. Não conheço o final da história, se o vaso chegou íntegro ao destino, mas a cena é um retrato da vida. Nunca sabemos se vamos chegar com nossas flores até os escolhidos do coração, elas podem se despetalar pelo caminho junto com nosso humor e melhor das intenções, então somos possuídos pela frustração e desesperança. Importante lembrar que é só mais um dia, outro amanhecerá sobre novos sonhos e planos, sempre e sempre, até acertarmos nossas contas com o tempo neste planeta. Importante nunca desistir das flores, nunca desistir de atravessar multidões para encontrar os que amamos, nunca desistir de, afinal, dar de cara com a felicidade e sua pressa em ser efêmera.

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