terça-feira, 6 de agosto de 2013

O COBRADOR VEM AÍ E ELE NÃO ESTÁ DE BRINCADEIRA


 

Tão me devendo colégio, namorada, aparelho de som, respeito, sanduíche de mortadela no botequim da rua Vieira Fazenda, sorvete, bola de futebol.” Este é um trecho do conto O cobrador, de Rubem Fonseca.

 O autor consegue criar um personagem saído do esgoto da humanidade pronto para cobrar todos que lhe devem alguma coisa. E é praticamente todo mundo, inclusive o marginal que lhe vende uma super arma.

E o cara da Mercedes que buzina e o assusta num momento em que ele estava se distraindo com uma esgarçada sensação de felicidade ao imaginar que, em minutos, estaria com a nova arma no bolso. Matou o sujeito.

A gênese desse sujeito obcecado em cobrar não importa. Se alguma circunstância familiar agravante detonou uma psicose, isso é tema para estudiosos de gabinete. E a conclusão a respeito não importa. O “cobrador” é verossímil, legítimo e reinventa o próprio ódio como espectador do templo do consumo. Ele conta:

“Quando minha cólera está diminuindo e eu perco a vontade de cobrar o que me devem eu sento na frente da televisão e em pouco tempo meu ódio volta. Quero muito pegar um camarada que faz anúncio de uísque. Ele está vestidinho, bonitinho, todo sanforizado, abraçado com uma loura reluzente, e joga pedrinhas de gelo num copo e sorri com todos os dentes, os dentes dele são certinhos e são verdadeiros, e eu quero pegar ele com a navalha e cortar os dois lados da bochecha até as orelhas, e aqueles dentes branquinhos vão todos ficar de fora num sorriso de caveira vermelha. Agora está ali, sorrindo, e logo beija a loura na boca. Não perde por esperar.”

O despojamento do autor do conto, ao não se preocupar com ser politicamente correto, com fazer denúncia ou ceder a qualquer elaboração intelectual ao longo da narrativa, é o que mais prende à leitura. E Fonseca consegue surpreender, como se já não bastasse tanto súbito em toda trama: o seu protagonista é poeta. Mesmo! Ele revela sua vocação a certa altura da estória, na casa de uma dona, uma dura, que o pegou na rua:

“Ela pergunta o que eu faço e digo que sou poeta, o que é rigorosamente verdade. Ela me pede que recite um poema meu. Eis: Os ricos gostam de dormir tarde/ apenas porque sabem que a corja/ tem que dormir cedo para trabalhar de manhã/ Essa é mais uma chance que eles/ têm de ser diferentes:/ parasitar,/ desprezar os que suam para ganhar a comida,/ dormir até tarde,/ tarde/ um dia/ ainda bem,/ demais./
Ela corta perguntando se gosto de cinema. E o poema? Ela não entende.”

Até aí, o cobrador não tem interlocutor, situa-se fora de qualquer média, acima dos perambulantes da rua como ele, abaixo dos intelectuais, acima dos pequeno-burgueses amantes de comerciais de TV e ignorantes dos direitos de um cidadão.

Não é possível dizer que dá pena ver ele errar na mão por buscar tudo no tiro, na ironia e no tapa. Na ironia porque ele não grita e sempre, ao final de cada ato, ri com descrença dos seus pares ou párias. Não dá para julgar criatura tão deformada pela existência. Chega um momento em que vem uma vontade de torcer para que ele saia daquele lugar onde foi parar. Mas se é um beco, podem pensar os mais apressados!

E daí nova surpresa,  outra bizarrice, desta vez confundida com final feliz. O cobrador ama e é correspondido. Extraordinariamente correspondido por uma branca, ressalta, que mora num prédio de mármore na zona sul do Rio. Vira amador além de cobrador.

Ana, a amada, que ele apelida de “palindrômica”, vai para o subúrbio morar com o delinqüente às vésperas do Natal. Surpresa, ela gosta de armas. Impregna o ar com proposta que cheira a ideologia, mas é pura anarquia. O cobrador agora amador pensa em profissionalizar o estilo. Mas não embarca nos sonhos, continua religioso na descrença.

Hoje é dia vinte e quatro de dezembro, dia do Baile de Natal ou Primeiro Grito de Carnaval. Ana Palindrômica saiu de casa e está morando comigo. Meu ódio agora é diferente. Tenho uma missão. Sempre tive uma missão e não sabia. Agora sei. Ana me ajudou a ver. Sei que se todo fodido fizesse como eu o mundo seria melhor e mais justo. Ana me ensinou a usar explosivos e acho que já estou preparado para essa mudança de escala. Matar um por um é coisa mística e disso eu me libertei. No Baile de Natal mataremos convencionalmente os que pudermos. Será o meu último gesto romântico inconseqüente. Escolhemos para iniciar a nova fase os compristas nojentos de um supermercado da zona sul. Serão mor­tos por uma bomba de alto poder explosivo. Adeus, meu facão, adeus meu punhal, meu rifle, meu Colt Cobra, adeus minha Magnum, hoje será o último dia em que vocês serão usados. Beijo o meu facão. Explodirei as pessoas, adquirirei prestigio; não serei apenas o louco da Magnum. Também não sairei mais pelo parque do Flamengo olhando as árvores; os troncos, a raiz, as folhas, a sombra, escolhendo a árvore que eu queria ter, que eu sempre quis ter, num pedaço de chão de terra batida. Eu as vi crescer no parque e me alegrava quando chovia e a terra se empapava de água, as folhas lavadas de chuva, o vento balançando os galhos, enquanto os carros dos canalhas passavam velozmente sem que eles olhas­sem para os lados. Já não perco meu tempo com sonhos.”

O final da história está no livro. O livro leva o nome do conto, O Cobrador. Vale a pena procurar o cobrador antes que ele procure por um de nós, afinal, ele não se aposentará enquanto persiste o império da injustiça social.


( Ilustração do Blog Via Literatura)



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SHARON E EU





O despertador nem tocou ele já  tinha pulado da cama. Olhou lascivo para a loira na parede do escritório. Como se não visse aquela barriga mole de chope, a falha  de cabelo no alto da cabeça e um dente molar ausente na arcada amarela de nicotina, sentiu-se o mais irresistível dos homens diante do espelho do banheiro. A esposa que madrugara arrumando café e despachando menino pra escola estranhou encontrar o marido já  no banho tão cedo. E de ótimo humor, como pôde constatar mais tarde. Um ardente beijo de despedida deixou a mulher ainda mais desconfiada o resto do dia. Que bicho tinha mordido o homem resmungão com que se casara? 

Consultando o relógio, ele constatou que chegaria com tempo de folga. Queria ficar bem colocado no saguão, pra ver de camarote. Só não contava com um congestionamento recorde, absolutamente incomum, no caminho. Roeu todas as unhas e andou quilômetros pelo corredor do ônibus, num vai-e-vem frenético limiar do desespero. Quando finalmente desceu no ponto de seu destino, disparou em direção ao prédio. Aonde chegou bem a tempo de ver uma limusine saindo cercada de enorme multidão. Avistou Denílson, o filho da mãe sortudo, no meio. O amigo confirmou sua suspeita: Sharon Stone já  havia ido embora. Durante a meia hora em que ficara no prédio alimentou incontáveis fantasias nos marmanjos de plantão. Tinha quem jurasse que cruzara com ela na porta do toalete e que ela lhe enviara um sexy beijo. Chegaram, alguns, a dizer que tinham ganho souvenirs da deusa. E todos foram unânimes: era mais bonita ao vivo que no cinema. 

O inconsolável homem que não viu nada vestiu sua capa branca e foi se acomodar na cadeira manca do laboratório, conformado com mais um dia de muito trabalho. Nessa hora, entra Denílson com uma latinha. “Adivinha o que eu tenho aqui?” E o que poderia ser, imbecil, se estava numa latinha e aquilo era um laboratório de análises clínicas? “As fezes da Sharon Stone”, e o amigo anunciou empolgado que ele fora o contemplado da sorte: ia processar o exame da loira diabólica. O homem sorriu amarelo, com ar de dúvida. Seria tão vantajoso assim? Só teve certeza de que estava pagando um mico quando abriu a lata, aspirou o odor e uma náusea o fez ver que, afinal, Sharon Stone não era tão especial assim. Ela fedia como todas as outras. “Lembre-me de jogar fora aquele pôster de ´Instinto Selvagem´ do escritório”, pediu à esposa, por telefone, já reencarnado no marido resmungão e entediado.

MACHADO DE ASSIS: QUEDA QUE AS MULHERES TÊM PARA OS TOLOS





Tradução, adaptação ou simples plágio? Há mais de um século estudiosos questionam a obra machadiana "Queda que as mulheres têm para os tolos" numa investigação rigorosa que não chegou, nem chegará, a uma conclusão definitiva.

Publicado em cinco capítulos entre 19 de abril e 3 de maio de 1861, na revista carioca quinzenal A Marmota, o texto escrito por Machado nunca trouxe indicação de autoria ou versão, prática comum na pré-história dos direitos autorais.

Seja como for, esse livreto compara homens apaixonados "de espírito" a "tolos", além de, com muita delicadeza, desqualificar as mulheres na sua capacidade de julgar as intenções "sérias" ou "risíveis" de homens e homens. E Machado de Assis se reporta a Victor Hénaux, em De l´amour des femmes pour les sots (ver Queda que as Mulheres têm para os Tolos – Editora Unicamp) para gerar mais polêmicas na vida já cheia de controvérsias dos casais.

Machado defende que as mulheres preferem os tolos porque eles são óbvios, pródigos em elogios, e inconstantes, passando de conquista a conquista sem crise de consciência, já que o público feminino lhes concede, numa próxima e próxima vez, o privilégio da escolha.
Já os pobres homens de espírito carregam lembranças de amores eternos não correspondidos pelo simples fato de serem "sinceros" em vez de melodramáticos. Qualquer semelhança com os dias de sempre pode não ser mera coincidência.

Hoje mulheres comandam decisões mundiais, são chefes de família em porcentagem que quase se iguala à dos homens, levantam a cabeça e assumem suas vidas quando estão sós. E as decisões românticas: privilegiam coração, razão, felicidade pessoal ou desvarios do amado? Esta é para pensar em casa, lendo Machado de Assis e despindo suas controvertidas e magistrais protagonistas feministas.

DUAS CARTAS E SETE PERGUNTAS PARA DRUMMOND






Quando Carlos Drummond de Andrade morreu, em 17 de agosto de 1987, muitos amigos meus me trataram como viúva. A essa altura, eu e o Carlos – que é como a família dele, particularmente netos, o chamava – já tínhamos uma pequena história, nascida em novembro de 1985.

Nessa data, escrevi uma carta para ele, solicitando uma entrevista. Demanda injustificada, assumo, considerando-se que eu nem estava trabalhando em algum veículo jornalístico e mal tinha começado a ser “foca” na vida. Fui inspirada pelo Halley!

Em 1910, o cometa passou pela terra espalhando o medo infundado de que envenenaria a atmosfera, causando muitas mortes. Drummond tinha oito anos, acompanhou atentamente o episódio e, mais tarde, reproduziu-o em crônica.

A crônica serviu de prefácio para um livro de 1986, que falava sobre a volta do Halley naquele ano. Eu revisei o livro e, conversando com o editor, descobri que o poeta era muito acessível, tinha enviado, por carta, uma autorização para a publicação do texto, sem mais.

A primeira carta

Pedi e peguei o endereço do Drummond, caneta, muitas folhas de papel e me sentei à mesa, planejando o que dizer para despertar o interesse do Carlos por mim. Depois de muitas páginas rasgadas e abandonadas, baixei a censura e contei como aprendera tanto sobre a vida com ele.

Fui flechada por Drummond definitivamente aos 11 anos, quando reli Quadrilha em plena fase de paixão desenfreada não correspondida. Ali me convenci de que, no amor, a gente raras vezes acerta de primeira. Assinei a longa carta e mandei para os correios, me esqueci.

Voltando para casa, num fim de tarde, encontrei embaixo da porta um envelope manuscrito, no verso, numa etiqueta, as famosas iniciais CDA e o endereço da rua Conselheiro Lafayette. Abri e nem acreditei: “Sua carta é linda e uma carta assim é um retrato espiritual de quem a escreve”... Palavras dele, numa letra cuidadosa e familiar!!!

Drummond me respondeu brevemente, com a sua assumida economia de palavras, dizendo-se disposto a atender-me na entrevista solicitada, mas que fosse à distância, porque dezembro era um mês “febril de chuva e calor, compras e vendas, barulho, etc.”

Propôs: "mande-me perguntas por escrito e eu, na calma do escritório à noite, responderei a tudo. Combinado?”

O alívio por ter escrito a carta certa (tantas vezes rascunhada, rasgada e reiniciada), e obtido a melhor das respostas, me travou. Eu não conseguia responder.

A segunda carta

Levei mais de um mês para lhe enviar as perguntas solicitadas “por mim mesma”, sofri ainda mais para escrever do que na primeira vez, tanto que só consegui formular sete perguntas.

Mas Carlos foi rápido no retorno, respondeu à minha atrasada carta com uma bronca discreta e uma reflexão:
“31 de janeiro de 1986

Cara Chris,

Já nem esperava mais receber as suas perguntas e concluí que, se elas não vieram, era porque as respostas seriam dispensáveis. Afinal, toda resposta, diante do silêncio de Jesus perante Pilatos, não é mesmo insignificante?”

(Não, pensei, não há nada de insignificante nas respostas de um homem que colocou uma pedra no caminho convencional da escrita)
 
A carta continuava: “mas você acabou me formulando sete questões e aqui estou tentando respondê-las, com o pior serviço datilográfico do mundo, perdoe.”

Seguiram-se as respostas, vou deixar de lado as questões e apenas apontar os temas que abordei, são eles:

Crônicas aposentadas
1) Deixei de escrever crônicas porque já me aborrecia fazê-las, depois de anos de militança. Tudo cansa, inclusive e principalmente escrever. Não busquei novos caminhos: apenas o silêncio.

Queima de diários
2) Não tenho mais diário, e no Observador no Escritório deixei claro que destruí o que mantive por muitos anos, na convicção de que é inútil deixar essa espécie de autorretrato de coisas íntimas para a posteridade.

Anos que passam
3) Minha relação com o tempo é a do comum das pessoas, nada simpática. Assisto à desmontagem do ser que ele construiu e que depois vai se divertindo em destruir, você acha isso engraçado?

Sobre o suicídio (Pedro Nava, seu grande amigo, havia acabado de se suicidar)
4) O suicídio continua sendo para mim um dos maiores mistérios. Toda especulação em torno de suas notificações e significados continua vã, pois falta o testemunho do principal interessado, o suicida. A única coisa que posso dizer é que não o condeno.

Sobre o amor

5) É um aprendizado infinito, que a vida não deixa concluir.

Sobre agradar os fãs
6) Nunca tive pretensão de influir sobre qualquer público e se há leitores que me distinguem com essa simpatia, isso ocorre por conta exclusivamente deles. Isso me conforta, é claro, mas não me anima a escrever em determinado sentido.

Sobre Minas (onde nasceu)
7) Carrego Minas como um peso leve nas minhas costas, um peso de que não me livraria, mesmo que o quisesse (e não quero).

Perguntas respondidas, desculpou-se na despedida: “Fui muito rápido, Chris: Desculpe o mau jeito de nascença e receba um carinhoso abraço do Drummond (assinou).














MÁRIO LAGO: SEM CASACA E DE BRAÇO DADO COM A BOEMIA





Dia 26 de novembro de 2012, Mário Lago completaria 100 anos. Morreu em 2002 sem contas a acertar com a vida. Fez tudo o que quis, dispensando já aos 13 anos a casaca de diplomata da qual a mãe fazia questão. Justificou para o filho: “Você é alto, magro, vai cair muito bem”.

Lago tinha outros planos e, apesar da pressão contra, ninguém na casa tinha moral para reclamar. O pai e avós, além de tios, eram todos músicos, como Mário que, já aos 15, fez uma marchinha para a namorada, com declaração de amor ditada pela militância política, outra vocação. Dizia: “nosso amor vai melhorar quando vier a Constituição”.

Com esses versos, o adolescente selou o destino definitivo e um elefante branco invadiu a sala de visitas da casa. O pai sentenciou: “Você está treinando para profissão de fome”.
Ainda bem que não foi praga, nem foi de coração, não pegou. Mas dinheiro, a julgar pelo que o Mário personagem público expunha, nunca sobrou. Nem faltou. Em entrevista no programa “Ensaio”, da TV Cultura, Mário se aventurou a fazer uma conta de cabeça. Complicou-se tanto que ninguém conseguiu sequer ajudá-lo. Explicou que foi reprovado três vezes em matemática e soltou a piada, já que bom humor, sim, esbanjava: “Eu não sei somar, por isso sou pobre, sei menos ainda multiplicar”.
Este é "o" Mário, segundo contam a lenda, a história e seu filho, Antônio Henrique Lago, jornalista, que faz aqui um rápido e delicioso perfil do pai. Antônio Henrique tem o mesmo humor e convicções do pai, além de já ter produzido obras memoráveis no campo da reportagem.

Acompanhe a entrevista que fiz, a seguir:

Ator, produtor, diretor, compositor, radialista, escritor, poeta, autor de teatro, cinema, rádio e TV, frasista (que eu trocaria por “filósofo do cotidiano”), militante sindical, ativista político e boêmio. Está tudo lá, no site oficial do Mário Lago. Entre tantas facetas, uma ou algumas se sobrepunham a outras?
Antônio Henrique Lago - O político sempre. Discutia as questões brasileiras diariamente com a família, amigos, o motorista de táxi, qualquer um que puxasse conversa. A pregação por uma sociedade mais justa e igualitária jamais ficava escondida ou em plano secundário. Papai nunca perdeu uma campanha política. Comunista por formação ideológica, sempre apoiou os candidatos de esquerda e do seu partido.
Mas há também o ator, sempre, porque este foi uma parte importante da vida profissional dele. Dar vida a personagens era parte do “ser Mário Lago”. Fazia laboratório sozinho para enriquecer o papel, discutia com o autor e diretor todas as cenas. Atuar era um exercício de vida!
E o escritor/autor/poeta, igualmente, sempre. Nos intervalos de gravação, nas férias, ele criava sempre um projeto para escrever. Durante as filmagens de O Padre e a Moça, recolheu material para um livro sobre o Chico Nunes das Alagoas, repentista e boêmio. Numas férias, traduziu a peça Fuente Ovejuna, do espanhol Lope de Vega. Do mesmo modo, escreveu uma peça sobre a revolução dos alfaiates - Foru Quatro Tiradentes na Conjuração Baiana -- que acabou censurada. Nunca deixou de compor, não havia como conter os versos.

Em casa, quais características pessoais predominantes você enumeraria?
AHL - Conversa franca, sobre qualquer assunto. Respeito às decisões de cada um da casa. Clima muito democrático.

Boêmio em um casamento que durou a vida toda. Como o Mário dividia o tempo entre o amor/família e as paixões, como a arte. Ficava em déficit com um lado ou outro?
AHL – Olha, papai sempre ia para os locais da boemia e levava minha mãe junto, mas eu lembro de ele chegar para uma conversa noturna sobre política, meus estudos - às vezes ele até me ajudava com os trabalhos escolares. Discutíamos minhas decisões pessoais e ele sempre respeitou as minhas escolhas. Ele e mamãe tinham a democracia entranhada no corpo e na mente.

Como era a casa do Mário? Um burburinho de música, amigos, festas? E o silêncio para criar, também habitava esse lar de artista?
AHL - A porta da casa de papai estava sempre aberta. Dolores Duran ia lá mostrar músicas. Carlos Marighela ia lá discutir coisas do PCB. Meus amigos e companheiros de militância política iam lá conversar. Era assim desde que me entendo por gente.
Na hora de criar, papai ia pro quarto, fechava a porta e se transportava para a criação, quer fosse para estudar as falas de um personagem, quer fosse para tocar o projeto de um livro.

Em uma frase, na sua opinião, qual o maior legado do Mário para:
- Você, filho
AHL - A defesa de uma sociedade justa e igualitária com o fim da exploração do homem pelo homem.
- A arte
AHL - Grandes interpretações como a do pescador Santiago, de O Velho e o Mar; e o Atílio da novela Casarão. Os versos de Nada Além, de Aí que saudades da Amélia e Aurora.
- A sociedade
AHL - Um exemplo de coerência política, honestidade de princípios. Tudo parte da luta pela sociedade sem exploração e opressão.

Sem segunda opção, qual música, filme (como ator ou diretor), papel na TV você colocaria como número 1 no ranking das criações do Mário?
AHL - Como música, eu gosto mais, puramente pessoal, do Nada Além. Mas sempre me emocionei muito nos bailes de carnaval ao ouvir o povo cantando Aurora. O Padre e a Moça, de Joaquim Pedro de Andrade, como filme. E papel na TV foi o Atilio, do Casarão.

Mário criava compulsiva ou metodicamente? Há ainda muita produção dispersa, inéditos? O que podemos esperar?
AHL - Papai era um criador compulsivo/metódico. Ele não podia ficar parado. Se não estivesse gravando, estava bolando algo e escrevendo.Escrevia, depois lia, corrigia, mudava, lia de novo e assim por diante, até ficar satisfeito.

O Mário era polivalente e multimídia. Como ele se relacionava com as novas tecnologias? Chegou a incorporar essa linguagem internética a seus trabalhos?
AHL - Papai não chegou a usar a tecnologia multimídia moderna. Ele exercia a multimídia pessoalmente. Acho que a formação sem a internet bastou para ele. Além do que ele conviveu muito pouco com a internet.

Qual, na sua opinião, foi a grande realização dele no campo das artes? De qual ou quais obras ele mais se orgulhava?
AHL - Papai achava que cada texto, música e personagem eram um sucesso particular e parte do todo que ele considerava o melhor da sua obra. Ele realmente gostava de tudo que fez.

E na política, qual a grande conquista e a grande frustração na sua vida de lutador?
AHL - Ele tinha muito orgulho de ter participado do comando da greve dos radialistas de 1962, que resultou na regulamentação da profissão. E de ter participado das lutas pela liberdade e ter visto as quedas das ditaduras de Getúlio Vargas e dos militares. Acho que frustração foi a de ver que o homem ainda vive numa sociedade intrinsecamente injusta e exploradora.

Pacifista e inconformado, por isso mesmo eterno militante, que causa ou causas você acha que ele defenderia hoje?
AHL - Acho que ele continuaria a lutar contra a exploração do homem pelo homem. E, é claro, as causas ambientais também estariam entre as suas preocupações.

Fonte: Portal Vermelho

UM CORAÇÃO PARA HOMENS DE LATA


Um coração para o homem de lata, um cérebro para o espantalho, coragem para o leão e um lar para Dorothy. Esta é a busca dos personagens de O mágico de Oz, um musical clássico de 1939. A maioria dos fãs compra a versão de que é uma história típica de Hollywood com final feliz. Poderia ser se não tivesse Yip Harpurg como letrista.

Yip escreveu também o “hino da depressão”, em 1932, no qual narra o engodo do sonho capitalista. O Mágico de Oz resgata o sonho, realizável além do arco-íris, ou das fantasias do mundo imperialista que Yip, socialista, sempre combateu.

Do palco para a depressão
Posso imaginar o letrista Yip Harburg em um bar freqüentado por roteiristas, artistas, compositores da Broadway, logo após a quebra da Bolsa de Nova York em 1929. Os pedintes nas esquinas o deixam indignado. Também inspiram.
Yip começa então a rabiscar num guardanapo a letra da música que se tornaria o verdadeiro hino da depressão norte-americana. Um gole na bebida e um verso: ““Eles me diziam que eu estava construindo um sonho”. Outro gole, novo verso: “Com paz e glória à minha espera”. Engole a seco, conclui a quadra: “Por que então estou aqui na fila/ esperando apenas por um pedaço de pão?”
O título da canção “Brother, can you spare a dime?” pode ser traduzido por “Amigo, você tem um trocado?”. Bing Crosby gravou em 1932 -- muitos outros famosos regravam até hoje -- e foi um retumbante sucesso.
A música expõe a realidade estúpida do operário -- personagem da letra -- que construiu tudo o que constitui o “american way of life”, de ferrovias a mansões, grandes torres e edifícios, mas não tem um tostão no bolso e fica na esquina, espiando a pressa dos ricos na tentativa vã de ser ouvido na sua pobreza.

Da depressão para a guerra
O tempo passa, chega 1939. O mundo se confronta com a guerra. Yip cria o Mágico de Oz. Dorothy, o leão, o espantalho e o homem de lata metaforizam o drama e transformam a história em uma fábula universal.
A canção-tema, “Somewhere over the rainbow”, gravada por Judy Garland, resgata o sonho, não o capitalista, mas o dos direitos humanos, que Yip persegue como bom socialista. O tema principal? Voltar para casa, um espaço onde somos aceitos, compreendidos e amados!
Voltar para casa também é chegar a um lugar além do arco-íris, diz a letra, e esse lugar não tem nada a ver com o tal pote de ouro do folclore popular. Também não tem relação com posse ou poder, conforme explica o medroso leão, na cena em que assume por breves momentos o posto de rei dos animais: “A diferença entre um rei e um escravo é a coragem”. Logo a coragem o abandona e ele rasteja diante do mágico no trono.

Da Broadway para a lista negra
Yip Harburg, filhos de pais imigrantes de origem russo-judaico, conheceu cedo na pele a pobreza e o preconceito e nunca virou as costas ao passado miserável.
Ao longo da carreira, escreveu letras para mais de 600 canções em parceria com uma variedade de notáveis compositores.
De 1951 a 1961, durante a temporada de caça a artistas, celebridades e jornalistas supostamente remota ou completamente ligados a comunistas, promovida pelo Senador Joseph McCarthy, Yip foi para a "lista negra" em função de suas idéias políticas sobre cinema, televisão e rádio. A Broadway, no entanto, manteve-se livre desse tipo de censura, só por isso o autor pôde continuar trabalhando, embora perseguido.

De Hollywood para o Havaí

Yip Harburg morreu em 5 de março de 1981 aos 84 anos. Seu espírito visionário não morreu, muito menos sua obra, que continua inspirando ativistas de todo o tipo, como Israel Kamakawiwo.
Nascido em Honolulu, Israel nunca ocultou a sua posição a favor da independência do Havaí e de defesa dos direitos dos nativos. Regravou “somewhere over the rainbow” em um mix com “What a wonderful World”.
O cenário, o humor e o ritmo são outros; o sonho, não sei, mas gosto de pensar que continue sendo o mesmo sonho de Yip.

CHICO BUARQUE CONTA OS MINUTOS COMO AVARENTO




O autor, cantor, compositor, andava pelos domingos solitários no Rio cruzando com conhecidos desejando boa sorte, e ela chegou, na figura de uma talentosa cantora e compositora, Thais Gulin. A moça o fez navegar nas ondas avassaladoras da internet e lhe apresentou o rap, ele lhe ensinou o baião. Os dois ensaiaram e confessaram em dueto: “se eu soubesse não saía à rua, nem cantaria que te amo demais se fosse capaz”. Tudo mentira!

Verdade que a jovem de pele branca e cabelo cor de abóbora é de outro planeta, mas o “mané” de cabelo cinza sabe percorrer rios e mundos para chegar a qualquer mulher, que dirá à amada.
Eu me arrisco a pensar que se conheceram em uma festa junina, onde ele viu tremeluzir seu vestido através da fogueira. Se assim foi, neste mês, quem sabe neste dia 19, a dupla completa um ano da descoberta do amor e ele, 68 de vida, número histórico como o histórico ano de rebeldes e hippies que jamais terminará.
O homem teme, sente que vai penar com a pequena, mas já valeu a pena, jura e sorri na turnê mais apaixonada que já se viu. Quem duvida que o amor pode estar logo ali, virando a esquina, como canta Nina Simone, outra musa dos enamorados? Eu não!
Não sei por que esse amor nessa hora...reclamam, mas dão a receita: é algo “tipo um baião”

SE O DIA TE DER UM LIMÃO FAÇA UMA LIMONADA

Reprodução da obra de Paul Cézanne


Quem conhece o ditado, deve estar achando que fiz confusão, trocando “vida” por “dia”. Foi intencional. Acredito que quanto mais os anos passam, mais precisamos aprender a viver um dia de cada vez. Com essa prática, você consegue tirar o peso de uma verdadeira montanha das costas: a tal da ansiedade.

Ela é que faz você se preocupar com a viagem do final de semana quando ainda é segunda-feira, ela é que te faz pensar em compromissos para o ano que vem justamente num dia em que você está cheio de tarefas. A ansiedade envelhece corpo e espírito, além de nos tirar do aqui e do agora e nos levar para um lugar que não existe: o futuro.

Se ansiedade for alimentada em sua fome insaciável, você vai entrar para a multidão de pessoas que precisa de remédio para baixar a velocidade dos pensamentos. O dia tem 24 horas e é com essas 24 horas que você vai ter que conviver a cada dia.


Mesmo que você tenha alguma doença, se já está se tratando, não dedique pensamentos ao amanhã, curta o almoço em família, o trabalho, uma taça de vinho com amigos, não imagine o que vai acontecer, se você vai piorar, melhorar... Se a lição de casa está feita, dedique-se ao momento.

Mas ainda não falei do limão: o limão é quando alguma coisa dá errado mesmo. A maioria das pessoas, nessa circunstância, perde a paz, a paciência, a alegria e se entrega a lamentos, raiva, baixa-estima, sentimentos que, no final das contas, magneticamente, acabam por fazer outras coisas darem errado na sequência. Você já passou por isso, não é? Existe um magnetismo entre o pensamento e o fato.

Os indianos, sabiamente, dizem há milhares de anos que precisamos prestar atenção no que pensamos hoje porque esses pensamentos se tornarão nossa realidade amanhã. Traduzindo para o cotidiano, se você levantou da cama com a perna esquerda, faça o favor de colocar a direita na frente para não ficar tropeçando em tudo e todos.

O pior é que essas ruminações a respeito do que deu errado são a raiz do estresse e não terminam com uma boa noite de sono. No dia seguinte, você acorda derrotado, como se tivesse perdido o campeonato e não apenas um jogo. Esquece-se de que há um jogo pra cada dia. Raciocine comigo: se você fosse um jogador de futebol e perdesse a partida no domingão, o que faria na segunda-feira? Pediria demissão ou encarava o treino para estar em melhor forma no próximo embate?

Muita gente pede demissão cedo, conclui que nasceu mesmo assim ou assado, não vai mudar. Garrincha com suas pernas tortas que o ensine aqui, ele não desistiu! Se você reparar, 50% dos vencedores são azarões. Eles precisam superar tanto desafio que chegam a se tornar geniais, e genialidade não é exatamente uma qualidade comum. É raridade cultivada, muitas vezes, com suor e lágrimas...

Quem me inspirou para esse texto, porque tudo se resume mesmo em viver em aprender, mesmo e principalmente com os mais jovens, foi o Grupo Inquérito, de Hip-Hop. Eles perderam o avião e um show que iam dar. Acho que todo mundo já viu esse filme: termina em horas no aeroporto aguardando novo embarque na companhia de um baita mau humor e com o bolso mais vazio, porque sempre acabamos pagando taxa extra. A culpa foi do trânsito, mas para o Inquérito, não houve culpa, houve a chance de criar um belo vídeo, inventaram tudo na hora e já são sucesso no Youtube. Quem canta definitivamente seus males espanta.
http://youtu.be/q_ze8_D6KPI


NÃO VI A LUA




Nem a azulada, nem a prateada, nem esta alaranjada, aliás nem coloquei o nariz resfriado na rua. O bom é que não preciso me lamentar porque sei que a lua cheia, obediente às leis da astronomia e como uma arquetípica "mãe generosa" desde a antiguidade histórica, voltará em 28 dias.
Pode não ser a lua magistral, a maior de 2012, a lua que sintonizou os místicos na frequência direta com os mestres do cosmo nesta madrugada de 5 de maio, mas será a lua cheia de sempre, que chama a atenção do mais desatento dos passantes quando cruza o seu caminho e o seu olhar.

Só não podemos andar de cabeça baixa, o que, simbolicamente, é um tipo de rendição ao comezinho, chão de pavimento ou de terra sob os pés, e negação do que escapa ao tato, a lua e o firmamento, tão longe e ao mesmo tempo tão perto.

Ouso pensar que a humanidade deixou as cavernas por causa das estrelas. E aumenta o passo da evolução cada vez que se maravilha, de novo, com o universo representado por luzinhas, maiores ou menores, no varal dos sonhos estendido no azul do céu.

Não vi a lua, mas me entreguei a ela em reflexões inspiradas por sua luz entrando pelas vidraças e descobri que a minha vida anda assoberbada, fora do meu controle como um astro errante, parecendo andar para trás como os astros retrógrados, que nem existem: retrogradar é um fenômeno astronômico que causa a impressão de que um planeta está indo para trás. Impossível.

O universo segue sempre em frente, com estrelas nascentes e cada planeta no seu ritmo, mais lento como Plutão ou acelerado como a lua, que em menos de um mês nos brinda com todas as suas fases. E lá de cima inspira atitudes e escolhas em nossas vidas, que vão desde cortar o cabelo no período crescente, para que os fios se alonguem mais depressa, até plantar ou colher nas fases mais propícias. Indo bem mais longe, há crenças populares de que relacionamentos ou planos iniciados na lua crescente tendem ao sucesso, e isso é só o começo de toda a longa especulação, estudos, fascinação em torno da nossa lua de cada noite.

Não ver a lua -- aqui estou sendo ainda mais subjetiva -- pode significar que estou me tornando cada vez mais tarefeira e menos competente na capacidade de extrapolar, de tempos em tempos, o que está meramente abaixo do meu nariz. Ao mesmo tempo, ver a lua no Facebook não consola, é até mais desanimador porque representa um processo, a que estamos nos acostumando cada vez mais, de ver o mundo pela tela de um computador. Fica mais simples e traz uma gratificação certamente ilusória de que estamos fazendo parte da vida e dos acontecimentos.

Sinto-me tolamente ligada aos amigos que amo porque sei que é só enviar-lhes um e-mail que vem outro em resposta. Quase me esqueço daquele papo lado a lado, olho no olho, que desaparafusa minha máquina pensante, criando nova engrenagem de pensamentos e sentimentos, aquela prosa que alimenta revelações, autoconhecimento, termina em encontros mudos, em momentos que fotografamos com o coração para a eternidade.

Imagine-se daqui a 30 anos ou mais, remexendo memórias, inevitável, porque esse tempo chega e as memórias são o estofo e o molejo da vida como o de um sofá que acomoda a nossa velhice ou cansaço... Em 30 anos, você vai rememorar algum e-mail importante trocado com um amigo, um post que mudou a vida, uma cibercausa triunfante, uma foto no facebook que substituiu a experiência de estar ao lado da pessoa na cena?

Será que vamos nos contentar com essas imagens, será que os mais jovens julgam ter uma vida satisfatória porque teclam o dia inteiro com os conhecidos, será que a lua cheia vai continuar nos magnetizando se não buscarmos um encontro direto com ela, fora de quatro paredes?

Ontem eu não vi a lua, nem fui a uma festa histórica da turma da faculdade para a qual fui convidada há meses. Certamente vou ver as fotos dessa festa e ler comentários no facebook, não será a mesma coisa. Os relacionamentos na era virtual estão empobrecidos, ou sempre foram.

O fato é que o homem busca e enfrenta desafios em todos os campos do conhecimento, mas não se dá conta do monumental desafio que é criar laços reais de companheirismo com a comunidade, seja no trabalho ou dentro de movimentos sociais ou políticos; de amizade com os que escolhemos e queremos ter próximos; de família, não necessariamente parentes de sangue, mas aqueles que consideramos irmãos; e de “amor na prática” com os filhos, por exemplo, ou com o marido ou esposa, que provavelmente amamos, sim, muito além do beijinho após o café da manhã juntos e do boa noite exausto trocado já com as cabeças no travesseiro.

Se corpo a corpo parece mais sinônimo de luta, proponho uma ressignificação: que busquemos “relacionamentos corpo a corpo", ombro a ombro, em conversas a pé, passos desalinhados que levam a quase encontrões, enquanto ouvidos e mentes se afinam como instrumento de orquestra.

Quero ver a lua, nem que tenha que trabalhar menos, ganhar menos, pensar menos e sentir mais! Quero lutar na rua pelas causas em que acredito com mangas arregaçadas e não com o dedo no teclado do notebook, quero estar bem perto das pessoas que amo, que me inspiram e que são cúmplices em rompantes de loucura ou criatividade, em encontros insubstituíveis, como com a minha filha, num café na esquina à moda antiga, bem longe do computador e do celular, outra ilusão de conexão humana que a indústria sabe vender muito bem.

MEU MARIDO É FEIO E AINDA ASSIM O AMO





“Meu marido é feio e ainda assim eu o amo.” Com essa declaração, a expert em assuntos do coração, Helenice, tentou consolar um homem complexado com a aparência.

Helenice foi o pseudônimo que Vinícius de Moraes adotou quando assumiu uma seção de consultoria sentimental no “Flan”, sofisticado semanário editado pelo grupo Última Hora, de Samuel Wainer. Vinícius estava precisando de dinheiro, por isso procurou um emprego com o amigo.

No dia 12 de abril de 1953, o jornalista diletante estreou na função, apresentando-se aos leitores: “Eu venho também de grandes sofrimentos e amarguras. O mundo das sombras do espírito e das doenças da alma não tem segredos para mim.”

O tom parecia sincero, mas os amigos, que conheciam a verdadeira identidade do autor do desabafo, acharam que aquilo era pura ironia. Será? A verdade é que Vinícius lutou para manter viva uma imagem poética, sedutora, de homem galante, seguro, feliz, e pagou um preço caro por isso. Divertiu-se muito, mas, à medida que envelhecia, cada vez mais precisava do “cão engarrafado” para compor seu personagem. A perspectiva de encontrar a musa, que o moveu em cada dia da charmosa existência, tornou-se insatisfatória no final. Ou porque ele descobriu que a musa não existia de verdade, ou porque cansou, ou porque, num último esforço de poeta, identificou-a romanticamente com a morte: uma dama gélida, misteriosa e atraente.

Na sua breve carreira de conselheiro sentimental, Vinícius assinou respostas secas, sarcásticas e maliciosas, a ponto de o diretor da publicação, Joel Silveira, argumentar que a seção não devia mais se chamar “abra seu coração”, e, sim, “abra suas pernas”.

Vinícius foi substituído por Nelson Rodrigues, o que não deve ter aliviado a carga erótica dos conselhos, mas a troca serviu para devolver Vinícius ao papel que mais apreciava: o de “bon vivant”. Ele partiu para uma temporada em Paris, esquecido de Helenice e de seus conselhos extravagantes, afinal, de que servem os conselhos na vida de um homem que prefere sentir primeiro e pensar depois?

(Trecho do Capítulo 1 do livro “Para esquecer um grande amor – 10 Receitas testadas e Aprovadas”, de Christiane Marcondes Alves de Brito)

O VELHO E AS ALEGRIAS ENVELHECIDAS






Esperar o dia da morte é um exercício inútil, não gratifica, enterra coisas boas prematuramente, traz um esquecimento, que não é mal de Alzheimer, é pior, apaga lembranças de sonhos e das alegrias simples ao alcance de todos.


Coisa de americano. Foi a minha conclusão quando li o título do filme que iria passar na sessão das 10 na televisão, Gran Torino. Estupidez a minha não saber que o nome referia-se a uma marca de carro da Ford, associei com Máfia, tourada, velho oeste, sabe-se lá quantas bobagens me passaram pela cabeça. Por pura inércia, corpo afundado na poltrona, assisti às primeiras cenas, e segui já sem inércia, mas com certa incredulidade, até o desfecho final.

Com certeza o filme era coisa de um americano, Clint Eastwood, e superou minha expectativa, nada da historinha manjada de um velho ranzinza que não se entende com a família. Nem com o mundo. Suicida-se dia-a-dia com um cigarro sempre aceso na boca, espanta intrusos com armas e arrogância, cospe no chão para estranhos e seres que julga inferiores, cospe sangue como um desenganado quando tosse escondido de todos.

A SOLIDÃO DOS CARRANCUDOS

Clint é um velho chato solitário, veterano traumatizado da Guerra da Coreia, racista... para piorar, tem uma família típica de classe média, movida a consumo e a soluções óbvias que dinheiro compra. Sugerem que o velho se mude para um residencial de idosos na tentativa de reinserir-se, após a morte da esposa, num contexto social amigável.

Aqui, me identifiquei com o desatino de Clint, que colocou filho e nora para fora da casa batendo a porta. Estavam equivocados. Velho não ativa neurônios ou libido jogando gamão com contemporâneos ou indo a bailes patéticos de terceira idade. Foi naquele momento que percebi, claro como raios de sol surgindo atrás de mata fechada, que velho não tem que viver com velho, é sectarismo. Se há vida, há lições para aprender e é na sociedade com sua diversidade que aprendemos, jamais em escolas dogmáticas.

Os cabeças-duras vão discordar, preferem cultuar hábitos em altares, distribuem provérbios gastos como ouro em pó, criam espinhos como ouriço. Esperam a morte redentora mergulhados na infelicidade inconfessável, nem entre quatro paredes. Muito menos a um padre.


O padre é que dá início à transformação de Walt, nosso protagonista viúvo e durão. O jovem de 27 anos quer e persegue uma confissão, para atender o último pedido da falecida, “ovelha de seu rebanho”. Consegue ser expulso da casa não sem antes ouvir barbaridades sobre a sua virgindade e inexperiência.

Aqui a trama faz um desvio de rota. Resumidamente, Waltt passa a conviver com orientais e negros, que despreza, com gangues e violência, revê conceitos, então defende uma família de imigrantes e nela, tão diferente da sua, reencontra a auto-estima e o significado dessa nova etapa da existência. Rende-se ao afeto por um garoto, Tao, e entrega a vida para que esse garoto e sua irmã, excluídos sociais, consigam se livrar de ameaças maiores e vislumbrar um futuro livre de estigmas.


De um lado, sorrir quando é agredido, verbal ou fisicamente, aceitar oferendas de
uma comunidade que o julga heroi segundo generosos parâmetros, compartilhar refeições antes de compartilhar afinidades, render-se a verdades xamânicas (o que é isso mesmo?) inegáveis. Do outro, servir a um velho carrancudo em obediência a ordens da mãe, sustentar o primeiro passo de garoto em direção a um mundo muito diferente do seu, o do homem americano. Assim Walt e Tao aprendem juntos, seguindo em autodescobertas que partilham sem pudores nem palavras.

O mais importante nessa amizade nascente e na reviravolta da história é perceber como o relacionamento entre os personagens, a princípio imposto, cria uma dinâmica que o velho homem desconhecia, desperta a tolerância e a aceitação que ele nunca soube praticar. Walt descobre com estranhos laços que jamais teve com sua família.
O final é impactante, traz o dilema de escolher entre a violência e a rendição estratégica, essa última vence o ódio e elimina de vez os marginais da vida dos ameaçados estrangeiros. O caminho dos jovens se abre para novas oportunidades, o coração do velho para de bater em paz. E se há vida após a morte, certamente um sorriso acompanhou Walt ao outro mundo.

ALEGRIAS SIMPLES AO ALCANCE DE TODOS

Quando o desespero e o ceticismo se instalam, a salvação vem do improvável, mas só pode ser encontrada se trilharmos caminhos diferentes dos habituais, se nos aventurarmos e corrermos riscos. Walt sofreu ao ver seus novos e únicos amigos sofrerem e foi a dor que lhe tirou da pasmaceira cotidiana.

Esperar o dia da morte é um exercício inútil, não gratifica, enterra coisas boas prematuramente, traz um esquecimento, que não é mal de Alzheimer, é pior, apaga lembranças de sonhos e das alegrias simples ao alcance de todos.

Viver é um ato que se empreende até o último suspiro, qualquer retirada antes do momento final é covardia e privação. É tristeza, rugas em proliferação, solidão e angústia sem salvação.





"O DESTINO NÃO ME DEVOLVE O QUE PERDI, POR ISSO SIGO EM FRENTE, SEM LAMENTAR NADA." (Cleyde Yáconis)

Por Christiane Brito


A atriz Cleyde Yáconis foi casada durante onze anos com o ator Stênio Garcia, até 1969, quando ele a deixou para viver com outra. Um bilhete feito às pressas sacramentou a separação, que jamais foi discutida. A ausência de confronto, longe de ser frustrante como alguns devem pensar, foi o caminho que Cleyde preferiu trilhar. Entrevistei a atriz na sua chácara, em Jordanésia (SP), numa tarde ensolarada. Depois de falarmos de amor, ela me levou para conhecer seu pomar, repleto de frutas das quais eu nunca ouvi falar, inclusive estrangeiras, como uma tal de "lixia", chinesa, disse-me. Saí de lá com um saquinho de jabuticabas colhidas no pé e com gosto de flor na boca: ela me fez mastigar pétalas de "chaga de Cristo". Curiosa metáfora. Com as "chagas de Cristo", contou-me, ela prepara uma salada de sabor exótico. As suas próprias chagas ela também soube transformar em alimento para a alma, uma alma sólida, amável. Saí de lá acolhida e encantada.

TRABALHAR COM AS MÃOS É A MINHA TERAPIA. AJUDA
AS FERIDAS A CICATRIZAREM MAIS DEPRESSA.

"Casei só no civil. Minha irmã Cacilda Becker e o marido dela, o Walmor Chagas, foram os padrinhos. Mal acabou a cerimônia, fomos para o ensaio da peça que estávamos fazendo juntos. Eu não usaria as palavras 'grande amor' para definir meu relacionamento, porque na verdade sempre considerei o companheirismo como principal alicerce de um casamento. Mesmas ideias, ideais, isso é que vale.

Mais do que duas pessoas se amarem, o importante é que elas compartilhem um mesmo amor na vida, porque só o companheirismo perdura quando o tesão muda.
Eu sempre pensei que o meu casamento fosse durar. Porque tínhamos as mesmas metas de vida. Nunca foi uma ligação de dependência, nunca tive ciúmes, aliás, nem sei o que é isso. Nunca controlei horário, confiava mesmo. Se ele chegasse 5 horas da madrugada, nem me ocorria perguntar onde ele havia ido.

Cada um tinha um carro, eu adorava aquela independência. E cheguei a prometer pra ele que, se algum dia eu me interessasse por outro, ele iria ficar sabendo antes do próprio. Achava que havíamos descoberto uma fórmula de boa convivência, por isso me espantei ao saber que, antes da mulher com quem ele foi morar, o Stênio já havia tido outros casos.

No dia em que ele saiu de casa, eu estava no hospital, ao lado da Cacilda, que enfrentava um aneurisma. A doença repentina dela já havia sido um choque emocional tão forte que neutralizou o golpe do bilhete de adeus.

QUANDO ELE ME DEIXOU HAVIA TANTAS COISAS FUNDAMENTAIS
PARA EU CUIDAR QUE O ROMPIMENTO FICOU EM SEGUNDO PLANO.

Nem pensei em procurá-lo para discutirmos nada. Liguei para o meu advogado e pedi que encaminhasse a papelada da separação. Arrumei tudo que ele tinha em casa e deixei na portaria da TV Excelsior, onde ele trabalhava.

Nunca conversamos. Minha irmã estava morrendo e aquilo pra mim era mais importante que tudo. Eu raciocinava que o homem que tinha assinado aquele bilhete era um desconhecido e não o companheiro que eu supunha ter do meu lado. Enterrei a Cacilda e também aquela pessoa que tinha vivido comigo onze anos.
Hoje, eu olho o Stênio na TV e nem tenho lembrança de que fomos casados. Não há nenhuma familiaridade. É um estranho absoluto.

Quando ele me deixou havia tantas coisas fundamentais para eu cuidar que o rompimento ficou em segundo plano. Vendi a nossa casa em um dia, botei os móveis na rua, leiloei, me livrei de tudo. Um mês depois nos reencontramos diante do advogado.

Ele quis conversar, me neguei. Não estava interessada nas suas explicações. Fui morar com minha mãe, que estava precisando muito de mim. Ela, que adorava o Stênio, me deu todo apoio. Tinha uma generosidade infinita, era incapaz de nutrir ódio ou ressentimento, nem por meu pai. Ele também nos deixou quando eu tinha 4 anos. Mas nós o amávamos assim mesmo.

Acho que essa facilidade de perdoar deve ser genética. Posso ficar furiosa com alguma coisa, mas o sentimento não chega a virar ódio ou rancor, simplesmente termina. Não tenho desejo de mal pra ninguém.

Eu estava com 40 anos quando me separei e nunca mais tive vontade de namorar alguém. Minha vida afetiva acabou. Escolhi conscientemente ficar sozinha. Se alguém se interessou por mim, eu não percebi, não dava chance para ninguém se aproximar. Canalizei meu tesão para o trabalho. E posso dizer que me realizei.
Na minha vida não há rotina, porque rotina é tudo o que você faz displicentemente, mecanicamente. Comigo é diferente. Faço tudo como se fosse a primeira ou última vez, a vida ganha sabor. Cada dia meu tem ânimo diferente, o cotidiano flui gostoso, vivo. Foram assim os quinze anos que passei ao lado da minha mãe, até ela morrer.

CLARO QUE EU SEI COMO É BOM ESTENDER O BRAÇO E TER ALGUÉM
QUERIDO DO LADO, NA CAMA, MAS POSSO SOBREVIVER SEM ISSO.

Acho que casamento é uma coisa legal, só que foi uma experiência que esgotei na minha vida. Eu queria ficar só mesmo. Tenho ligação umbilical com a terra, por isso sou tão feliz aqui nessa pequena chácara. Tenho as mãos calejadas, gosto de bicho, converso com planta, animal, comigo mesma, rezo alto. Tenho um infindável colóquio astral com Deus. Faço trabalhos manuais, preencho minhas horas com atividades muito diferentes. Tenho caseiro, mas não tenho empregado dentro de casa, faço de tudo, comida, arrumação, potes de geleia.

Adoro estrada, adoro dirigir. Quando não tenho nada pra fazer, coloco o 'Felipe' (cachorro que ela ganhou da atriz Bel Kutner, filha do também ator Paulo José) no carro e saio por aí, vou a São Roque, Roselândia. Levo vida de interior, com vizinho que troca fruta, verdura. Sou caipira, nasci em Pirassununga (SP), nunca curti a noite, como os meus colegas de profissão. Sou introspectiva, tenho amizades de quase cinqüenta anos, mas são poucas e bem escolhidas.

Não abro minha intimidade a qualquer um. Assim, eu sou feliz, apesar de tantas perdas, reviravoltas que já enfrentei.

Perdi minha mãe cedo, e era muito apegada a ela, mulher excepcional mesmo. Aí minha irmã ficou viúva e resolveu vir morar comigo. Pensei que ia ter uma velhice tranqüila, acompanhada, mas minha irmã adoeceu e morreu repentinamente, em 40 dias. Tive de reestruturar toda a minha vida novamente.

PARA SUPERAR PERDAS, A GENTE TEM DE IR ATRÁS DO QUE
NOS FAÇA BEM, É BUSCAR O QUE AGRADE À ALMA.

Isso é o que me segura, o prazer de cada dia nesse mundo que escolhi para viver, em contato íntimo com a natureza. A dor faz desaparecer o medo da morte, porque afinal a morte soa como descanso, esperança de algo melhor. Lamentação não combina com meu temperamento. O Felipe, por exemplo, a Bel Kutner me deu para substituir a minha cadelinha, que havia morrido e eu adorava. Claro que uma coisa não substitui outra. O destino não me devolve o que perdi, por isso sigo em frente.

Tenho essa facilidade de desfrutar enorme prazer com as coisas do cotidiano, especialmente aqui, no campo. Acompanho as estações, o tempo de cada árvore frutificar, aí acordo mais cedo pra ver, adoro comer fruta no pé, tenho canteiro de flores, adoro ver muda brotar.

A DOR PODE MELHORAR OU PIORAR UMA PESSOA.

Não me sinto injustiçada, não sou triste, vivo muito meu mundo interior, tenho muita serenidade. Fui criada por uma mulher de enorme força espiritual, ela dizia que mão não pode ficar parada, repousando no colo, tem que estar em atividade. Foi uma grande lição, pra toda vida. Trabalhar com as mãos é a minha terapia, ajuda as feridas a cicatrizarem mais depressa."


(Do livro "Para esquecer um grande amor", de Christiane Brito - fase final de produção - 2013)

O MUNDO FICA DE CABEÇA PRA BAIXO QUANDO A GENTE AMA


O mundo fica de cabeça para baixo quando a gente está apaixonado...os mais velhos fogem de paixões, dizem que amor é companheirismo, eu já fujo dos mais velhos que sentem desse modo. São a minha turma, mas, pô, tem coisa mais deliciosa do que o sentimento de não poder viver sem o outro? É ilusão? Então viva as ilusões. Se elas não se tornam romances, na raça, podem se tornar lembranças que aquecem ou poesia, ou doçura no olhar sobre a vida. Estou adorando ver essa geração de filha e sobrinhos completamente enredados nas tramas da paixão-amor. Vou pegando as sobras com meu coração de menina, sei que posso, todos podemos, nos apaixonar ou reapaixonar a qualquer instante. Não é magia, é intensidade de sentimentos, é um rasgo de céu, é uma perspectiva de alegria, talvez felicidade, que existe em conta-gotas, mas existe. Não entro para a reserva de conformados, céticos e desanimados. Aconselho até que abram um lugarzinho para esse fogo que não queima, arde!

DÍSPARES, ÍMPARES E PARES...



...todo casal se encaixa em uma das acepções, com boa vontade trocam de posições por vezes, mas é raro. 

Os díspares se separam ou chegam juntos à eternidade dos dias trocando insultos em um carnaval de picuinhas, viciados no jogo de passear pela vida em dupla renunciam a realizações pessoais e a dois, essas ficam abandonadas em caixas de papelão cobertas de teias de aranha no sótão. 


Os pares são ecléticos, surpreendentes, topam a façanha de reunir individualidades num caldeirão alquímico em que diferenças são respeitadas e até admiradas. São metade de uma maçã. 


Os ímpares, cedo ou tarde, na dor ou na euforia da liberdade, descobrem e assumem que não têm alma gêma, mas podem usufruir de companhias e sonhos. Juntos ou separados.
 

E ainda há a solidão, outra conversa, tem que ter alma de aço e pensamento de plumas; uma, firme nas tormentas, outro, sempre leve, livre e solto.

FLORES NO METRÔ DAS SEIS




  1. Escrever é meu jeito de me aproximar, de me indignar, de sobreviver emocional e materialmente, também de sofrer, de ser o que não sou, de sonhar demais e fazer de menos, de levar uma vida paralela que não avança com passos decididos, mas tropeções em palavras ambíguas, como as da poesia, “que demais cansa”, disse Drummond, por mais que ela seja um tipo de tecido que recobre a alma, bem mais sutil e muito abaixo da pele com poros e pelos, cheiros, texturas, cotidianamente talhada pelas marcas do tempo. Por isso me atraso no encontro com a felicidade. Que está sempre do lado, em frente, acima, quem sabe atrás, nunca na folha de papel. Felicidade que também surpreende em aparições inusitadas. No empurra-empurra assustador do metrô estava no vaso de flores que um doido apaixonado teimou em proteger com o próprio corpo e levar da Sé ao Belenzinho na hora da insensatez, dos trens apinhados de gente. Não conheço o final da história, se o vaso chegou íntegro ao destino, mas a cena é um retrato da vida. Nunca sabemos se vamos chegar com nossas flores até os escolhidos do coração, elas podem se despetalar pelo caminho junto com nosso humor e melhor das intenções, então somos possuídos pela frustração e desesperança. Importante lembrar que é só mais um dia, outro amanhecerá sobre novos sonhos e planos, sempre e sempre, até acertarmos nossas contas com o tempo neste planeta. Importante nunca desistir das flores, nunca desistir de atravessar multidões para encontrar os que amamos, nunca desistir de, afinal, dar de cara com a felicidade e sua pressa em ser efêmera.