terça-feira, 19 de maio de 2015

SARTRE E SIMONE: A ESCRITA QUE SILENCIA DORES

Primeira foto do casal, 1929, acervo Simone de Beauvoir


Precocemente, me interessei pelo envelhecimento como tema de reportagem e estudo. Em 1986, escrevi um projeto que intitulei “A idade da razão”. Baseou-se na crise de meia-idade vivida por Jean-Paul Sartre e Simone de Beavoir. Eles estavam chegando aos 40 anos, não tinham reconhecimento público (Sartre principalmente contava com a fama, tendo em vista o assumido brilhantismo) e passaram a conviver com as dúvidas das escolhas.

Enquanto Sartre enfrentava até mesmo surtos psicóticos, Simone vivia a homossexualidade ainda incerta do tipo de relacionamento que estabelecera com Sartre e pressionada pelo relógio biológico.

Os dois, de certa forma, levaram suas questões para os livros e deixaram que os seus personagens confrontassem e exorcizassem as angústias. Sartre escreveu a trilogia “Caminhos da Liberdade”, inaugurada por “A idade da Razão”, de 1945. Simone lançou “Todos os homens são mortais” em 1946. As obras, principalmente as de Sartre, possuem evidentes traços autobiográficos.

Demônios apaziguados, os autores seguiram para novas angústias e obras. Não vou me aprofundar aqui -- mesmo porque o projeto tinha como objetivo mostrar que a “idade da razão” representava um ritual de passagem que poderia ser despertado mais tarde nos tempos modernos da juventude alongada--, mas retomo esse exemplo porque demonstra que a organização das ideias via escrita, com referências autobiográficas explícitas ou não, pode ser transformadora no sentido de libertar o autor de um estado opressivo de alma. 


Perceber-se, valorizar-se, criar um campo simbólico para a luta das ideias e sentimentos é regenerador. No caso do idoso, a biografia pode representar a sobrevivência emocional e, principalmente, a possibilidade de nova inserção social com fôlego protagonista.